Coleção
Cariri
2017
"Cariri é o coração verde pulsante da região nordeste do Brasil, no entanto, também poderia ser considerado azul, rosa, roxo, amarelo... Cariri tem todas as cores do interior do nordeste. Com uma história pavimentada em condições árduas e lutas ferozes, o povo de
Cariri fundiu-se com forasteiros, vindos das regiões costeiras, da Bahia, Piauí e do exterior, transformando o povo de Cariri em uma mistura de muitas raças, credos e nacionalidades.
Em Tupi, o termo Cariri (ou Kariri) significa "outra nação" ou "nação inimiga", pois eles não
falavam a mesma língua. E foi esse sentimento de não pertencer à cultura costeira que deu origem a um novo sentimento, um de pertencer a um solo místico e fértil, sagrado e abundante, o Cariri do Ceará. Nos anos 1900, Cariri passou por seu tardio renascimento. Nosso Medici chama-se Cícero Romão Batista. O “Padre Cícero" foi escolarizado com o devoto Ibiapina, ele é uma figura messiânica, apocalíptica, controversa. Idolatrado por milhões e desacreditado por outros, uma coisa é certa, o Padre Cícero teve a maior
responsabilidade na proliferação da arte e cultura popular do Cariri.
No início do século 20, Juazeiro do Norte era um distrito na cidade de Crato com uma população de não mais de dez mil habitantes. Havia duas farmácias, duas escolas públicas, alguns armazéns e nada menos que 138 oficinas artísticas.
Havia um pouco de tudo lá, alfaiates, ourives, sapateiros, ferreiros, carpinteiros e pintores. O padrinho de Juazeiro incentivou a criação de novos negócios, expandindo assim as possibilidades da população local, que até então estava limitada à agricultura nas terras dos latifundiários. O Padre Cícero contribuiu para a independência dos moradores da cidade, "em cada casa um santuário, em cada varanda, uma oficina" ele pregava. Este é
o maior legado que Cariri deixou para o mundo: seus artesãos, seus mestres culturais, seu ofício majoritariamente sem escolaridade mas grandemente profundo, impregnado de "brasilidade", mitos, arquétipos, em uma explosão de cores que, talvez, no dia em que o sertão se tornar mar possa ser inundado e, com a proteção da "mãe do belo amor", ser elevado aos céus e alcançar o paraíso."
